O mês de outubro é uma época muito importante do ano para pessoas envolvidas com doenças reumáticas. Em 12 de outubro, coincidindo com o dia da criança e o dia de Nossa Senhora Aparecida, para os católicos, temos o dia mundial da artrite. No dia 20, o dia mundial da osteoporose. E, no dia 30, por fim, o dia nacional da luta contra o reumatismo.
Essas datas simbolizam e chamam a atenção para doenças que afetam milhares de brasileiros e que, em muitos casos, são desconhecidas pela população e pelos próprios portadores dessas patologias.
Dentre as doenças reumáticas autoimunes, talvez a artrite reumatoide seja a patologia mais conhecida. Ou, pelo menos, seja uma doença da qual se ouve falar com certa frequência. Apesar de ser considerada uma doença incomum, a estimativa é de que haja 35 mil pessoas acometidas por artrite reumatoide somente no Estado de Santa Catarina, considerando a população de SC em 7 milhões de habitantes e a prevalência de artrite reumatoide 0,5% na população geral.
Outras doenças, menos frequentes, mas também potencialmente graves, e que integram o grupo das doenças reumáticas são as vasculites, o lúpus eritematoso sistêmico, a síndrome de Sjögren, a esclerose sistêmica, síndrome do anticorpo antifosfolípede, as espondilartrites. São nomes difíceis, diferentes, para muitos completamente estranhos. No entanto, todas essas patologias apresentam em comum a ação de um sistema imunológico desregulado, desregrado, disfuncional, como causador das manifestações clínicas que os pacientes sofrem, por uma inflamação auto induzida, contra antígenos próprios. Isso leva ao mal funcionamento, por autoagressão imunológica dos rins, da pele, dos pulmões, das articulações, das glândulas salivares e lacrimais, do cérebro, dos vasos sanguíneos, etc. Claro, com nuances fisiopatológicas específicas de cada doença, mas, em linhas gerais, a desregulação imune é um mecanismo central.
Outro aspecto que muitas patologias reumatológicas autoimunes tem em comum, em especial no início do quadro, é o fato de haver, em maior ou menor grau, inflamação de articulações ou tendões, causando dor e limitação de movimento articular. Essa dor tem uma característica inflamatória, ou seja, é acompanhada de inchaço nas juntas, de dificuldade de movimentação por rigidez, há piora dos sintomas ao acordar pela manhã, pode haver febre, cansaço, fadiga associados ao quadro álgico. Muitas vezes, o início do quadro é sutil, lento, ocorre ao longo de meses. Em outros casos, o início do quadro é abrupto, grave, levando o paciente a buscar pronto atendimento. Todas as pessoas com este tipo de queixa devem ser avaliadas pelo médico reumatologista.
Tendo como protótipo a artrite reumatoide, historicamente, quando falamos nesta doença, imaginamos uma pessoa sofrendo, com dor, em cadeira de rodas, dependente, com juntas deformadas. Foi assim que a artrite reumatoide afetou a vida de artistas renomados, como o pintor francês Renoir e a cantora francesa Édith Piaf, cujo peso da doença sabidamente marcou suas biografias.
No entanto, graças aos avanços no diagnóstico precoce e na efetividade do tratamento moderno, a vida das pessoas com doenças reumatológicas nos dias de hoje difere muito do sofrimento experimentado no passado.
Hoje, sabe-se da importância do diagnóstico precoce para instituição do tratamento rapidamente, seguindo o mesmo raciocínio do diagnóstico precoce do câncer. Além de uma minuciosa entrevista e exame clínico, dispomos de excelentes ferramentas diagnósticas, exames laboratoriais e de imagem específicos que auxiliam o identificar a doença e instituir o tratamento adequado. Dessa maneira, é possível controlar os reumatismos, significando evitar suas complicações. O diagnóstico precoce das doenças reumatológicas leva a um melhor tratamento, melhor manejo, melhor prognóstico, ou seja, o paciente vai ficar muito melhor no futuro se houver diagnóstico e tratamento precoces.
Sendo as doenças reumatológicas um problema crônico de saúde, é muito importante que haja uma parceria entre o paciente e seu reumatologista. O tratamento envolve uso de medicações potentes que atuam no sistema imunológico e exige um acompanhamento regular e frequente. Em cada consulta, o reumatologista faz ajustes no tratamento de acordo com a resposta clínica do paciente. Esses ajustes devem ocorrer em intervalos relativamente curtos de tempo, a fim de conseguir atingir doses adequadas dos medicamentos e controle máximo da doença.
O mês de outubro está chegando para lembrar que os reumatismos são doenças graves e que devem ser encarados com seriedade. O reumatologista é o médico com conhecimento e experiência para diagnosticar e conduzir o acompanhamento das pessoas com doenças reumatológicas. Apesar de não haver, ainda, cura para os reumatismos, o avanço nesta área da medicina permite que as pessoas vivam bem, estudem, pratiquem esportes, trabalhem, cuidem de suas famílias. O segredo está, com certeza, no diagnóstico precoce e no cuidado especializado.
Aline Defaveri do Prado – Médica Reumatologista
CRM SC 25466