A história não é incomum: um idoso começa a apresentar dor articular nos membros superiores e inferiores, fadiga, desânimo e até perda de peso. Os familiares logo começam a fazer apostas: “é reumatismo” – diz um sobrinho. “A idade chegou, seu Quincas”- aponta um genro dado a piadas. “Pode ser depressão”- sinaliza a sobrinha, mais cautelosa. “Deixa o vô quieto”- emenda o neto benevolente.
Apesar de muito comuns, queixas musculoesqueléticas em idosos costumam ser subvalorizadas e, por isso, subdiagnosticadas e insuficientemente tratada.
O texto de hoje chama a atenção para uma doença de nome difícil, contudo, mais comum do que imagina-se e de diagnóstico e tratamento relativamente simples, desde que o paciente em questão seja encaminhado corretamente ao Reumatologista.
É a Polimialgia Reumática, uma doença inflamatória sistêmica que acomete tecidos musculoesqueléticos sobretudo ao redor de articulações dos ombros e quadris, e que caracteriza-se clinicamente por dor e rigidez nas regiões dos ombros e quadris.
A doença tem como característica iniciar em indivíduos acima dos 50 anos de idade, mas é mais comum acima dos 70 anos de idade.. Devido à inflamação intensa que a mesma causa, os sintomas são mais intensos pela manhã, e pode haver fadiga, emagrecimento e até mesmo febre associados. Quando muito intensos, esses sintomas podem assustar, e não raramente os acometidos podem ser extensivamente investigados para a possibilidade de Neoplasia antes de chegar-se ao diagnóstico de Polimialgia Reumática.
O diagnóstico dessa enfermidade é eminentemente clínico, e, por isso, o papel do Reumatologista é essencial para diagnóstico e tratamento rápidos evitando sofrimento e exames desnecessários e prevenindo a temida complicação da Polimialgia Reumática conhecida como Arterite Temporal (ou de Células Gigantes), uma inflamação de vasos que pode levar a cegueira rapidamente se o tratamento demorar, e que pode ocorrer em até 20% dos pacientes com Polimialgia Reumática.
Na investigação complementar, as provas inflamatórias desses pacientes (VHS e Proteínca C-reativa) encontram-se marcadamente elevadas corroborando a natureza inflamatória da doença.
Após o diagnóstico correto da Polimialgia Reumática, o tratamento é feito com corticoides e a resposta costuma ser excelente e muito rápida, com melhora significativa dos sintomas já nos primeiros dias do uso da medicação. Após o tratamento inicial, é feito lento desmame do corticoide e o paciente deve ser acompanhado clínica e laboratorialmente para definição quanto à necessidade ou não de outras medicações.
Como lembrete final, se você tem na família ou conhece algum idoso com quadro de dores articulares persistentes e de início recente, sugira a ele que procure um Reumatologista imediatamente. Os sintomas podem ser um indicativo de um processo inflamatório intenso subjacente e com consequências temíveis.
Filipe Martins de Mello – Médico Reumatologista☺
CRM 15.057 RQE 13.294