Os problemas reumáticos são velhos conhecidas dos brasileiros, principalmente da população idosa. Dados do Ministério da Saúde revelam que mais de 12 milhões de pessoas sofrem com algum dos mais de 120 tipos de doenças reumáticas. Felizmente, os avanços nos tratamentos têm permitido que uma parcela cada vez maior do público possa conviver saudavelmente com as doenças, já que a maioria delas não têm cura.
Para falar sobre a evolução dos tratamentos, desde os primeiros métodos até os procedimentos mais modernos e atuais, contamos com a participação da Dra. Sonia Fialho, Diretora Executiva da Sociedade Catarinense de Reumatologia (SCR). Acompanhe!
Como eram realizados os primeiros tratamentos para doenças reumáticas? Quais eram os focos desses métodos?
Dra. Sonia Fialho: Descrever a evolução do tratamento de qualquer doença implica em conhecer os processos pelos quais ela passou até que fosse efetivamente identificada como uma entidade autônoma. Apesar de terem sido descobertas lesões reumáticas no esqueleto de homens pré-históricos de 2 milhões de anos atrás, a história científica da reumatologia inicia-se somente com Hipócrates (460-380 AC), sendo que o termo “reumatismo” surgiu com Dioscórides (40-90 AC). Até os tempos atuais, é comum a utilização deste termo que faz referência às inúmeras doenças que cursam principalmente com dor relacionada ao sistema músculo-esquelético.
Porém, com a evolução do conhecimento, hoje sabemos que os “reumatismos” englobam mais de cem tipos diferentes de doenças, com causas, sintomas, tratamentos e prognósticos bem distintos. De fato, a ampliação do entendimento do comportamento de cada uma delas, desencadeou a personalização de cada tratamento. Partimos da Idade Média com a utilização de sangrias e purgantes, passando pelos anti-inflamatórios não esteroidais (salicilatos, 1884), esteroidais (cortisona, 1950), imunossupressores (ouro injetável, 1950) e imunomoduladores, até chegar aos tratamentos atuais mais modernos, mais rápidos e eficazes. Em resumo, em função do completo desconhecimento da etiopatogenia das doenças, o tratamento era basicamente empírico e focado especialmente no alívio dos sintomas.
Quais são os principais tratamentos disponíveis atualmente? O que buscam tratar?
Dra. Sonia: Os principais tratamentos disponíveis atualmente são os imunobiológicos. Essas moléculas não são produzidas de forma sintética. São moléculas muito especiais produzidas por células vivas, com toda a complexidade inerente aos processos biológicos. Os avanços nos tratamentos, principalmente com imunobiológicos, que pode ser feito por via subcutânea ou dentro da veia, revolucionou a reumatologia enquanto especialidade médica e fez muito mais: revolucionou o tratamento e a vida dos pacientes que sofriam com doenças reumáticas.
Pacientes, agora, podem vislumbrar não somente uma vida sem dor, mas sim, vislumbrar uma vida social, familiar e laborativa exatamente como a de um indivíduo saudável. O tratamento com os imunobiológicos visa não somente eliminar a dor, mas “desligar” a doença e prevenir deformidades.
Já temos imunobiológicos disponíveis para artrite reumatoide, lúpus, vasculites, espondiloartrites, espondilite anquilosante, artrite psoriásica, osteoporose, artrite idiopática juvenil, dentre outras. Ainda, podem ser utilizados em várias condições associadas ou não a sintomas reumáticos como: psoríase, enxaqueca, asma, dermatite atópica, urticária crônica, uveítes, hidradenite supurativa, doenças inflamatórias intestinais, esclerose múltipla, etc.
Fazendo uma comparação com as décadas passadas, quais foram os principais avanços nos tratamentos?
Dra. Sonia: A evolução no entendimento da etiopatogenia dos diversos tipos de doenças reumáticas possibilitou o desenvolvimento de terapias mais focadas na origem do problema. Desta forma, avança-se nos estudos que possibilitam um diagnóstico mais precoce com um tratamento mais específico, visando não somente aliviar as dores mas sim tratar a doença no seu “âmago”, em sua raiz, vislumbrando-se, inclusive, no futuro a possibilidade de prevenção primária e cura.
E-saúde: Qual a importância das terapias complementares nesses tratamentos?
Dra. Sonia: Terapias complementares certamente atuam como importantes adjuvantes ao tratamento e nunca perdem a sua importância. Obesidade, tabagismo e estresse são condições que podem contribuir para o mal controle da doença reumática. Desta forma, independente do tratamento medicamentoso que esteja sendo utilizado, é de fundamental importância não fumar, ter uma dieta balanceada, realizar atividade física e procurar estratégias de controle do estresse.
Nunca é demais reforçar a importância que a fisioterapia pode ter em muitos tipos de reumatismo, prevenindo a perda muscular, promovendo o alongamento e fortalecimento muscular/tendíneo, aumentando a amplitude do movimento articular, diminuindo o risco de quedas, ensinando medidas de proteção das juntas e auxiliando na conservação de energia.
Existe algum novo tratamento para doenças reumáticas que está sendo desenvolvido? O que podemos esperar para o futuro?
Dra. Sonia: As pesquisas não param e a cada dia surgem novos alvos terapêuticos e desenvolvimento de novas drogas. A imunoterapia, com a utilização, principalmente, de anticorpos monoclonais e receptores solúveis, tem se tornado uma modalidade de tratamento que rompe a barreira das doenças que tem a auto-imunidade como causa, possibilitando controle de outras vias não imunológicas implicadas nas mais diversas condições.
Ademais, as moléculas já existentes e aprovadas para determinadas doenças estão sendo testadas em inúmeras outras para as quais ainda não se tem tratamento adequado. Pode-se dizer que, embora tenha havido uma grande revolução terapêutica dentro da reumatologia nos últimos anos, os avanços nos tratamentos permitem que o futuro seja ainda mais promissor para os doentes reumáticos.
Quer continuar por dentro das principais novidades sobre tratamentos reumatológicos? Siga-nos no Facebook ou Instagram e receba conteúdos exclusivos em sua rede social favorita.